Linguagem humana X comunicação animal

   No de Fernanda Mussalim, fala que a linguagem animal é inata, limitada, uma vez que se limita a sons articulados, não ultrapassa o nível do concreto e do imediato, apenas exprime as necessidades básicas da alimentação e da reprodução. Por muito inteligente que seja o animal para comunicar, apenas dispõem dos seus meios naturais e instintivos. A linguagem está presente como objecto social.
   Benveniste, em seu texto intitulado “Comunicação Animal e Linguagem Humana” (2005), submeteu o sistema de comunicação das abelhas a um estudo detalhado, partindo dos estudos realizados pelo zoólogo alemão Karl von Frisch, que demonstram, de modo experimental, que abelhas exploratórias, por meio da dança, transmitem a outras da mesma colmeia informações a respeito da posição de um campo de flores
   Benveniste conclui que o sistema de comunicação das abelhas não é uma linguagem, mas um código de sinais e logo no inicio ele já afirma que a noção de linguagem aplicada ao mundo animal “só tem crédito por abuso de termos” , já que os animais não dispõem, nem de forma rudimentar, de um modo de expressão que tenha os caracteres e as funções da linguagem humana.


- A linguagem animal não possuir as particularidades da linguagem humana, mas  oferecem subsídios para crer que, no caso específico das abelhas, existe comunicação.

- A organização de suas colônias, suas atividades coordenadas, a capacidade que têm de reagirem coletivamente diante de situações imprevistas, supondo que elas têm aptidões para trocar mensagens. Entre elas a maneira pela qual as abelhas de uma colmeia são avisadas quando uma delas descobre uma fonte de alimento.

- O procedimento do experimento de Frisch que permitiu o registro dessa forma de comunicação se deu da seguinte maneira: observando em uma colmeia transparente, o comportamento da abelha que volta depois de uma descoberta de alimento.
  Ela é imediatamente rodeada por suas companheiras que estendem as antenas em sua direção, a fim de recolher o pólen de que vem carregada ou absorver o néctar que vomita. Posteriormente, essa mesma abelha executa danças, seguida das companheiras. Esse é o próprio ato da comunicação.

  Ela se entrega a uma de duas danças diferentes:
  • Em uma, traça círculos horizontais da direita para a esquerda e, depois, da esquerda para a direita;
  • Em outra, realizando uma vibração contínua do abdômen (“dança do ventre”), ela imita a figura de um 8: voa reto, depois descreve uma volta completa para a esquerda; voa reto novamente e recomeça uma volta completa para a direita, e assim por diante. 
- Após as companheiras terem entendido o "recado", sem a companhia da abelha que executou a dança, deixam a colmeia e voam diretamente para a fonte que a abelha operária colhedora havia visitado. E assim que elas voltam passam novamente a mensagem que provocam novas partidas, de modo que, após várias idas e vindas, centenas de abelhas já foram ao local indicado pela primeira.

- Frisch pôde supor que tanto a dança em círculos, quanto a que a abelha colhedora executa vibrando o ventre e descrevendo oitos são verdadeiras mensagens que comunicam à colmeia a descoberta do alimento.

- A diferença das duas danças: Ambas se reportam à distância que separa a colmeia do achado.
  • A dança em círculo anuncia que o local do alimento está a uma pequena distância – mais ou menos a um raio de cem metros da colmeia. 
  • A outra indica que a fonte de alimento está a uma distância superior a cem metros e até seis quilômetros. A distância é dada pelo número de figuras (oitos) desenhadas em um tempo determinado – quanto maior a distância, mais lenta é a dança. 
Exemplo: quando a abelha realiza de nove a dez oitos completos em quinze segundos, a distância do alimento é de cem metros; quando realiza sete, o alimento está a duzentos metros; quando realiza quatro oitos e meio, a distância é de um quilômetro; quando realiza apenas dois, a distância é de seis quilômetros.
  • Em relação à direção em que se encontra o achado, essa informação é dada com base no eixo do oito em relação ao sol, isto é, se ele se inclina mais à direita ou à esquerda, indicando o ângulo que o lugar da descoberta forma com o sol.
- Benveniste considerou que a descoberta de Frisch possibilita, a partir do modo de comunicação empregado em uma colônia de insetos, o funcionamento de uma “linguagem” animal.

- É possível, pois, perceber pontos de semelhança entre a “linguagem” das abelhas e a linguagem humana, visto que os processos comunicacionais desses insetos transpõem objetivos em gestos formalizados, que comportam elementos variáveis, mas de “significação” constante. Entretanto, apesar desses pontos de semelhança, o autor enumera várias diferenças que podem ajudar a esclarecer o que efetivamente caracteriza a linguagem humana.


   Todas essas diferenças entre a linguagem humana e a “linguagem” animal levam Benveniste a concluir que o termo mais apropriado para definir o modo de comunicação entre as abelhas, que se caracteriza pela fixidez do conteúdo, a invariabilidade da mensagem, a referência a uma única situação, a natureza indecomponível da mensagem, a transmissão unilateral, não como “linguagem”, mas como “código de sinais”.
   Outro ponto de extrema importância a ser observado é que não é apenas uma ou algumas das características referentes à linguagem humana o que faz surgir a sua diferença essencial em relação à linguagem animal, mas o conjunto de todas elas.

Por: Matheus de Oliveira e Silva

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